Brasil – O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prometeu que não haverá privatizações de empresas estatais em seu próximo governo, que começa em 1º de janeiro. “Vai acabar [sic] as privatizações neste país. Já privatizaram quase tudo. Vamos mostrar que empresa pública pode ter rentabilidade”, afirmou.
Lula já tinha dito que iria barrar desestatizações em andamento, como a dos Correios. Às 17h23, as ações da Petrobras operavam em queda de 2,13%, as da Telebras caíam 4,49% e as da Eletrobras abaixavam 0,98%.
Para o economista César Bergo, professor de mercado financeiro da Universidade de Brasília (UnB), a promessa provoca preocupação na ponta do mercado. “Isso afasta alguns rumores com relação ao andamento de processos que o governo Jair Bolsonaro [PL] estava levando adiante, como o da Petrobras. Por outro lado, leva a uma preocupação muito grande do uso das estatais não como um programa de governo, mas como um programa de partido”, afirma Bergo.
“Existe uma preocupação grande do mercado de voltar atrás em construções, principalmente do governo Temer, de voltar atrás na blindagem dessas empresas contra esse tipo de iniciativa. Os próximos passos vão ser decisivos para acalmar a situação. A ver. O mercado está que nem barril de pólvora”, diz o especialista.
Antônio da Luz, economista-chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), diz que o discurso de Lula é um sinal de “radicalização”. “Ele está colocando uma agenda de extrema esquerda na economia, uma visão que fracassou em todo lugar em que foi tentada. Isso demonstra que ele ainda não saiu do debate que já foi vencido — que é o de que um país deve privatizar o que não se mostra mais necessário ao Estado. Então vemos isso como um retrocesso, algo que não dá certo”, afirma.
A fala ocorreu durante o anúncio do ex-ministro Aloizio Mercadante como futuro presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Mercadante é o atual coordenador dos grupos técnicos da equipe de transição do governo federal, que terminou os trabalhos da tarde desta terça-feira (13).
“Eu ouvi algumas críticas de que você, Aloizio Mercadante, será presidente do BNDES. Eu quero dizer a vocês que não é mais boato. Ele será presidente do BNDES”, disse Lula.
Como chefe da equipe econômica do futuro governo, Lula escolheu Fernando Haddad, que vai chefiar o Ministério da Fazenda.
A indicação é vista com cautela por economistas, que consideram o perfil de Haddad mais político e dizem que ele não possui experiência que justifique a indicação para cuidar da pasta que vai formular e executar a política econômica nacional.
“O ideal é que ocupe aquela pasta uma pessoa com formação na área, o que requer muito conhecimento. É um ministério complexo. É importante que a pessoa tenha conhecimento para poder discutir com os demais ministros, conduzir a questão econômica, conversar com assessores e entender do que eles estão falando. Não nos parece ser o caso do Haddad, pela falta de formação na área e exercício ao longo da vida laboral dele nesta área”, afirma Antônio da Luz, economista-chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul).
Dessa forma, de acordo com Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Órama, é fundamental saber quem serão os demais membros do Ministério da Fazenda. “O ministro é apenas uma vitrine, a pessoa que vai trabalhar politicamente. A equipe é muito importante para tocar projetos. Tem pelo menos três grandes cargos: o BNDES, a Secretaria do Tesouro Nacional e a Secretaria de Política Econômica. Esses nomes serão mais determinantes, pois estarão no dia a dia, formulando as políticas econômicas.”
Ex-economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) Roberto Luis Troster acrescenta que, apesar de Haddad ter mestrado em economia pela Universidade de São Paulo, ele vai ter que mostrar trabalho. “Por mais que tenha mestrado na melhor faculdade de economia do Brasil, só o currículo não resolve.”
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